Resultado da teologia Deuteronomista. O livro busca uma complementariedade entre história e teologia. O autor serviu-se, especialmente, dos seis maiores, encarnando neles a sua doutrina teológica.
Os heróis são de épocas muito diferentes. O autor apenas menciona as atuações sem entrar em detalhes sobre as praticas dos juízes. Neles, o autor enquadra sua teologia.
Diferentes perspectivas teológicas, quando comparamos o autor Dtr. e as praticas dos juízes.
Na prática dos Juízes encontramos uma pluralidade de santuários.
O Dt reconhece só um lugar de culto (Dt 12)
O Dt condena os sacrifícios humanos (Dt 12,30-32); na história de Jefté há menção aos sacrifícios humano (Jz 12).
Nos Jz as histórias são das mais variadas; no Dt há uma história linear, sem possibilidades para outras divindades.
Nos Jz encontramos uma variedade de práticas e cultos; no Dt não existe tal possibilidade. O protagonista é “todo Israel” e não vários juízes.
O Dt centraliza um povo, e não inúmeros lideres carismáticos e isolados.
No livro dos Jz encontramos um tema caro ao Dt: a aliança contraída com Javé. Sobre a ótica da retribuição, o livro vai ao encontro de valores significativos feitos pelos líderes em favor de uma determinada tribo. “Quando Israel é fiel, Deus lhe envia libertadores, e sobrevêm tempos de paz. Quando abandona o Senhor para seguir outros ídolos, as maldições previstas pelo código deuteronômio desabam sobre o povo.
A sequencia “pecado – castigo - conversão- salvação”, repetida sete vezes com cada um dos juízes, de maneira uniforme e constante, põe às claras algumas doutrinas teológicas; por exemplo: a debilidade e fragilidade do povo, especialmente em relação aos cultos pagãos; a ameaça que pesa sobre Israel por causa de suas constantes apostasias; a inesgotável paciência de Deus, que se manifesta na sempre repetida aparição de novos libertadores” (Cf. Lamadrid, p.70).
Gedeão reconhece um amor divino sem limites (Jz 6,15-16). Há uma doutrina da graça que perpassa todo o livro dos Juízes. Deus se serve dos juízes para salvar o povo. Gedeão tem consciência de que a salvação vem, não de exércitos numerosos, mas da graça de Deus (Jz 7,2).
Estrutura do livro
Três partes podem ser identificadas no livro: (1,1 - 3,6), (3,7 - 16,31) e (17,1 - 21,25) [1].
Primeira parte:
Marcas centrais:
Ocupação da terra
Terras nas conquistadas (após da morte de Josué)
Voltar-se a outros deuses é se afastar de Javé
Juízes que salvam o povo da idolatria.
Segunda parte:
Marcas centrais:
Parte central do livro. Apresenta cada um dos juízes. Maiores e menores (detalhes dos textos).
Diferentes tradições no relato dos juízes maiores (Sangar (3,31) transformado em juíz maior (5,6); cântico de Débora (5) e a narrativa de Débora (4); a tentativa monárquica de instalar um rei, no episódio de Abimelec.
Os juízes maiores é que salvaram Israel diante do perigo dos inimigos.
Juízes menores não recebem ações de salvamento em prol de Israel.
Terceira parte:
Marcas gerais:
Cenas durante o período dos juízes.
17 e 18 centrados no santuário do Mica no desejo de desprezar a tribo de Dã.
19-21 ressaltam a violação dos estrangeiros (cf. Gn 19), uma peleja em favor do reinado.
O termo Juíz
A palavra Juíz tem muitos significados. No livro o termo aparece como alguém que leva o povo à batalha. שפט significa “livrar”, “salvar” Israel das situações de opressão (Jz 9,23). Os juízes (שפטים) realizam a tarefa de livrar Israel dos inimigos. Revestidos pelo espírito de Javé (רוח). Israel sai para combater revestido das forças de Javé (3,10). As autoridades são revestidas do espírito de Javé (3,10). A palavra Shapt mostra que os chamados serviram como representantes de Javé, governando com plenipotência Israel.
O ponto de fixação de tal concepção deuteronomista da história, referente ao tempo anterior ao reinado, é formado pelo exilio. Depois de 586 a. C. surgiu a pergunta de como a terra poderia continuar sendo governada sem a instituição do reinado. Uma vez que desapareceu nessa época a mediação entre Deus e as pessoas, significada pelo reino, os deuteronomistas mostram como o Espírito de Javé veio sobre determinados homens e mulher, capacitando-os a dirigir e salvar Israel em tempo de crises.
Os juízes governavam o povo, cuidavam da jurisprudência e assumiam tarefas de comando militar. No exercício do governo por pessoas não provenientes de família real reside para os deuteronomistas a analogia histórica entre a época dos juízes e a do exílio. Impossível de ignorar é a sua crítica ao reinado. A era dos juízes representa o modelo contrário ideal ao tempo do reinado, que para os deuteronomistas tinha conotação negativa (Herbert Niehr, p. 183).
O tema central do livro:
Resumo do tema central (Jz 1,1 – 2,23). Os israelitas foram capazes de tudo superar, pois se mantiveram obedientes, em tudo, a Javé.
Josué, fiel a Deus e teve seu sucesso. Deus fez maravilhas ao seu povo, por meio de Josué (2,7).
Surge uma geração que não conheceu Javé (2,10). Sem lideranças não se conhecem os caminhos de Javé.
Cada um fazia o que era reto aos seus olhos (17,6; 18,1; 19,1a; 21,25).
Havia os que eram maus aos olhos do Senhor (2,11; 3,7.12; 4,1; 6,1; 10,6; 13,1).
O profeta Oséias também testemunha tal desgoverno ( Os 5,4; 13,10).
Estudo exemplar de Débora e Barac (Jz 4,1 – 5,31)
Vários propósitos:
Uma mulher é chamada para liderar Israel. Débora dá provas de que está melhor preparada do que os varões.
Débora é profetiza e juíza ao mesmo tempo.
Liderança de Débora frente a Barac (interpelação deuteronomista)
Barac se recusa a sair para guerra sem Débora (4,8-9).
Atribuição da morte do inimigo, Yael, a quenita (4,21).
Barac atua num período em que as mulheres exerciam relativa liderança, numa sociedade patriarcal.
Outras mulheres (Sara, Miriam) surgem como lideranças em outras partes do livro.
Débora e Samuel foram profetas e juízes (Jz 4,6; 1Sm 7,15-17).
Débora chama Barac para conduzir o exército, Samuel unge a Saul para conduzir as tropas e vencer os filisteus ( 1Sm 10,1).
O cântico de Débora (Jz 5,3-11):
Um poema que destaca a conquista de Canaã.
Oferece elementos para compreender a política e a situação em meados do século XII e XI a.C.
Destaca a vitória sobre as tropas de Sísera.
Javé derrotou os cananeus (Jz 5,20).
O auxílio vem de Deus que muda a órbita das estrelas que ajudam Débora e Barac. Não é a primeira vez que o Dtr. utiliza deste tipo de redação para exaltar a Javé, em vista de Israel (Js 10,13).
Israel passa a controlar o vale de Esdralon; os israelitas controlam as rotas entre Efraim e Galileia (5,6b-7).
No v. 6 encontramos os israelitas abandonando a Javé e adorando Baal e Astarte (Jz 3,7; 8,33; 10,6). Débora como juíza marchou para derrotar Sísara e seus exércitos. O assassinato de Sísara é louvado porque colaborou na libertação de Israel.
Sísara chefia uma coalização de homens que pertencentes a vários reis (5,19).
Zabulon e Nefitali foram as únicas tribos que corresponderam ao chamado de Débora (4,6).
As tribos de Aser e Dan misturaram-se ao povo do mar (5,17). As tribos de Rubén, Galaad e a parte oriental de Manassés não participaram da “guerra santa”. Não são mencionadas Judá, Leví e Gad.
O cântico busca dar ânimos ao futuro das tribos. Eis um dos motivos de descrever a situação militar desesperadora das tribos israelitas no combate contra as cidades estados cananeias.
Por sua vitória Débora recebe o título de “Mãe de Israel”.
O cântico ressalta a capacidade de liderança, não importa se ela seja exercida por um homem ou mulher. O que está em destaque é a capacidade de liderança em prol de Israel. O cântico não apresenta relatos históricos sobre as vitórias das tribos israelitas, pois inúmeros relatos são contraditórios. O cântico está interessado em fortalecer a fé tribal em Javé. O autor realça a relação lealdade a Javé e bens recebidos para Israel. (Cf. Mafico, p.512).
[1] Cf. Herbert Niehr, p. 177-180.
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Notas/ITESP – LitDrt – Frizzo
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